quarta-feira, dezembro 31, 2008

Aos meus netos






































Gostaria de viver e de conviver com vocês tempo suficiente para contar-lhes o que ouvi de minha mãe sobre ela mesma e sobre meus avós. Gostaria de contar-lhes também sobre minha infância no meio rural , sobre meu sonho de ir à escola, estudar e aprender muitas coisas. Contar-lhes sobre os cães e os gatos que tive, sobre as travessuras que fiz, sobre o mundo que eu imaginava existir e sonhava conhecer.








































Armazeno informações. Um dia - quem sabe - eu possa romper barreiras de tempo e de espaço e contar-lhes o que não consegui contar aos meus filhos. Eles cresceram muito rápido. Eu nem cheguei a perceber que cresciam. E eles foram para longe. E eu tentei dar muita intensidade para a minha vida
para diminuir a dor da ausência que eles deixaram.
Feliz 2009. Feliz vida.

31/12/2008

Leva-me longe, meu suspiro fundo,
Além do que deseja e que começa,
Lá muito longe, onde o viver se esqueça
Das formas metafísicas do mundo.

Aí que o meu sentir vago e profundo

O seu lugar exterior conheça,
Aí durma em fim, aí enfim faleça
O cintilar do espírito fecundo.

Aí ... mas de que serve imaginar

Regiões onde o sonho é verdadeiro
Ou terras para o ser atormentar ?

É elevar demais a aspiração,

E, falhado esse sonho derradeiro,
Encontrar mais vazio o coração.

Fernando Pessoa

terça-feira, dezembro 30, 2008

Serra Gaúcha via Torres/SC



















Serra Gaúcha: uma surpresa agradável até para quem vive no Rio Grande do Sul e a visita de vez em quando. Fomos de carro, Mile, Cibele, Fabianinha e eu, a partir de Torres, seguindo o roteiro por Santa Catarina. Neste momento , a única dificuldade e localizar a saída para Praia Grande, visto que a BR 101 está em obras , e as placas de sinalização ou não existem ou estão encobertas. Vai-se , por estrada asfaltada, até Praia Grande, depois , por estrada de terra, até a divisa SC/RS .




















A paisagem é deslumbrante, especialmente quando se sobem os 1070 metros até Cambará do Sul. De Cambará, fomos ao Parque Nacional dos Aparados da Serra. Belo parque ( mas com infra-estrutura precária). Natureza exuberante. Canyons estupendos. Cachoeiras lindas. Muitas bromélias. Sobreposição intensa de tons verdes. Beleza de tirar o fôlego. Percorrer as estradas da Serra já é um inesquecível passeio, principalmente nestes dias, quando se formam verdadeiros murais de hortênsias floridas.





















Fomos ver também a iluminação de Natal de Gramado e Canela . Muitas figuras e cenas natalinas, resultado de um trabalho comunitário que se renova a cada ano. Gostei muito da decoração que vi em Canela, especialmente quando nos percorremos a rua da Igreja e dela nos aproximamos.



                                                                                         

















A Três Coroas fomos porque eu queria visitar Maíra, minha afilhada muito querida, que vive ali, no Mosteiro Budista e para quem eu comprara um presente em Mac Load Ganj, na Índia . Não a vi porque era segunda-feira, ela não estava e não era dia de visita àquele comovente local. Voltarei. Jantamos em Gramado e retornamos por São Francisco de Paula e Rota do Sol até Torres. Lembrei-me de Alex e Gisela e lamentei não tê-los acompanhado até os Aparados da Serra - lugar que merece realmente ser olhado e relembrado.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Natal 2008























Tivemos uma boa festa de Natal. À noitinha, Mile, Cibele, Pedro e eu fomos de Torres para a casa da Zeli e do Ary, em Capão. Lá estavam também Fernando, Igor, Lilian, Juninho, Gonçalo e Isadora , esta vivendo seu primeiro Natal. Foi uma noite tranquila e bonita com um jantar excelente. As muitas risadas ficaram por conta do Papai Noel, sempre de botas vermelhas de verniz, muitas pulseiras, unhas pintadas, perfumado e com a leveza inteligente e divertida da Zeli. . Até Gonçalo, com seus três anos, confidenciou: acho que o Papai Noel  é a VOINHA























Este foi, portanto, o ano em que Gonçalo deixou de acreditar em Papai Noel. Estava na hora, segundo Pedro. Agora só restam a Isadora e o Joaquim para acreditar. A cara do "bom velhinho" , neste ano, era nova e era sorridente! A do ano passado, tinha já um arranhão na face e um olho diferente do outro. Não sei qual das duas era mais assustadora ( ou engraçada!) Senti a falta de algumas pessoas, mas felizmente já aprendi a respeitar as escolhas e aceitar as impossibilidades. Importa mesmo a construção de belas recordações especialmente nos pequenos. Falávamos ontem de quando os pais das crianças de agora eram as nossas crianças. Tempo voa!

























Pedro se despediu dos primos dizendo: até daqui a um ano! É a certeza de quem tem 9 anos de idade. Os mais velhos já estão na fase de agradecer por mais este ano.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

"É verão..."


Ischia, bela ilha da Italia
 Em Torres e em casa outra vez : uma casa plena de recordações boas - porque as ruins , por sorte minha, eu as apago facilmente. Como escreveu Cícero, em Saber Envelhecer: "Não se sofre por ser privado daquilo de que não se sente saudades".
Dias lindos. Muita paz. Saudades, apenas, de meus filhos e de alguns amigos. Meus irmãos e sobrinhos ou chegam amanhã ou estão por perto. A consciência da brevidade e da fragilidade da vida me faz viver intensamente - até os momentos aparentemente tediosos. Aqui devo permanecer até final de janeiro.
"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."
Fernando Pessoa

domingo, dezembro 14, 2008

Feliz 2009!


Chandigard - India
 "E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta. E nada que se pareça com isso devia ser o sentido da vida..."
Fernando Pessoa

Desejo-lhes que 2009 seja um ano de descobertas especiais e maravilhosamente inesquecíveis.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

"São Longuinho,São Longuinho..."

Estou irritada comigo. Vivo perdendo coisas. E não é sintoma de envelhecimento : sempre fui assim, distraída.
Quando criança, na fazenda, saíamos a cavalo. Eu sempre seguia outro rumo ou me afastava das outras crianças ou me perdia. Minha justificativa era sempre a mesma: eu estava pensando!
Panelas e chaleiras esquecidas no fogo, janelas e portas abertas, compras em duplicata, troca de nomes, foram fatos normais na minha vida. Quando a Rosana estava grávida do Daniel, fui a um congresso em Fortaleza e comprei para ela dois vestidos. Ao abrir os pacotes, verificamos que eram absolutamente iguais. Outra vez , passei uma temporada de praia chamando o marido de uma amiga pelo nome do ex-marido dela - e me sentia injustiçada porque o homem parecia não gostar de mim.
Entre meus alunos, circulavam muitas histórias sobre minhas distrações. Uma vez estacionei o carro e fui dar aulas. Ao término delas, depois de muito procurar o carro, concluí que havia sido roubado. Ainda bem que, antes que eu avisasse a polícia do suposto roubo, um colega me lembrou que eu o havia deixado na frente de outro prédio.
Não lembro de esquecimentos relacionados a compromissos de trabalho. De lazer, sim. Esqueci-me muitas vezes. Aos meus alunos, eu costuma avisar da minha incapacidade de aprender seus nomes - compensada pela capacidade de identificar -lhes a letra e o estilo textual mesmo depois de muitos anos.
Escrevo sobre isso tentando convencer-me de que não estou com esclerose agora. Fui sempre assim.
Hoje, consultei até o "Santo Google" sobre objetos perdidos. Fiz, então, todas as "simpatias" e rezas ensinadas ali. Desta vez, está sendo dificil porque, além de mim, outras pessoas (Alda, Zeli, Mile, Igor e Lilian) estão me ajudando na procura de um documento valioso: meu passaporte. Faz uma semana que o procuramos. Eu estava certa que o colocara na mala que uso para viajar. Já desfiz essa mala três vezes sem resultado. Nada. E preciso do passaporte. Preciso de visto para o Egito - e o prazo está no limite. Sinto-me cansada e desanimada. Mas continuo procurando.
......................................................................................................................................
PS. Achei o passaporte. Estava na mala onde, por três vezes, eu o procurara.
Agora é pagar as promessas. Começo com os três pulinhos, prometidos a São Longuinho...

sábado, dezembro 06, 2008

" É Natal, é Natal...."

Dezembro chega, Natal já é. Fico sensível demais neste mês. Qualquer dim-dom-dom me faz pensar em familiares e amigos distantes, em festas passadas, em momentos inesquecíveis. Casa de Torres, meus filhos em diferentes idades, meus irmãos , meus sobrinhos, empregados, amigos, preparação da ceia, escolha de presentes, surpresas boas - um desfile de lembranças natalinas. Festa de Natal na Bela União , Papai Noel ( sempre a Zeli) chegando a cavalo, vindo do mato próximo, com malas de presente na garupa. Festa de Natal , quando conheci o Ron, na belíssima casa da Nica, em Illinois, com muita neve, muita gente e lindos pacotes. Festa de Natal no apto em Santa Maria, batizado do Pedro, meus filhos e muitos amigos, numa noite clara e bonita. Poucos dos meus Natais foram tristes - eu lembro particularmente de três - marcados por solidão, perdas ou traições. Não quero esquecê-los porque me ajudam no contraste com outros maravilhosos.
Fico, por isso, desde agora , querendo para todos um Natal com alegria e paz, amigos sinceros, família próxima, lembranças boas e ...muito ânimo e encantamento.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Sobre morar e mover-se

Transito entre Rosário e Alegrete como se nunca tivesse saído dessas duas cidades. Gosto delas. Há um quê de familiar em cada rua. Nenhuma surpresa depois da esquina. Gosto de cidades pequenas. Queria que o desenvolvimento das cidades não as fizessem maiores, apenas melhorassem a qualidade de vida de seus moradores. Gosto mais ainda de morar "pra fora". Observo em muitos países a tendência do retorno ao campo ou da troca da cidade pelo campo. Isso me encanta. A consciência das estações, no meio rural, amplia a dimensão do tempo. Penso que o campo é o melhor lugar para a gente envelhecer. Eu só precisava mesmo de um aeroporto mais perto. Aí seria a perfeição!
"Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida."
Fernando Pessoa

quinta-feira, novembro 27, 2008

Atentado em Bombay (Mumbai)





















Não tenho vínculos fortes com passado. O presente me encanta. O futuro é uma aventura . Faço projetos porque preciso reservar passagens com antecedência e ler sobre os lugares que desejo conhecer. No mais, aguardo as surpresas. Sobrevivi ao herpes zoster! Estou na Bela União e estou bem - de saúde e de ânimo.   Se bem que hoje amanheci “ preocupada com o mundo”!                                                                   



















Tudo porque li ontem sobre os atentados em Mumbai, cidade de que aprendi a gostar. No ano passado, estive lá durante uma semana, hospedada bem próximo do Café Leopold . Este ano voltei ao mesmo café, tão tradicional e sempre cheio de turistas. Leio que foi um dos alvos atingidos e que está em chamas. Entrei , duas vezes, no Hotel Taj Mahal, para olhar suas luxuosas lojas internas - o hotel onde eu estava hospedada certamente custava um décimo do preço cobrado pelo Taj. Impressionou-me a facilidade com que a gente circulava naquele ambiente tão bonito. Leio que foi o cenário de muitas mortes e que também está em chamas. 


Foto retirada do Yahoo

























Conheço todos os outros lugares atingidos. Recordo-os perfeitamente. Postarei aqui uma foto que fiz do Hotel e outra (panorâmica) da vista que eu tinha este ano, hospedada na casa dos pais da Krithika, numa zona nobre de Mumbai , de onde eu podia ver a proximidade entre arranha-céus e favelas, na capital financeira do País.O atentado, assumido por um grupo desconhecido, composto, segundo testemunhas, por jovens, entre 20 e 25 anos, parece estar vinculado às lutas, entre militantes islâmicos e extremistas hindus.

 




















Há lutas também entre paquistaneses e hindus , pelas terras da Caxemira, Estado que eu queria muito conhecer , mas tenho medo – e me basta o medo que passei na fronteira da Índia com o Paquistão.Pena tudo isso, tantas mortes, tantas perdas. A felicidade não é um estado individual. Ficar-se-ia melhor num mundo de harmonia e de bem estar-social.

sábado, novembro 22, 2008

Tudo passa...mas até passar...


Retornarei, amanhã, para Bela União. Sinto, ainda, dores fortes, principalmente na mão. É fogo esse herpes zoster - não é sem motivo que , em italiano , tem a denominação de " fuoco di Sant Antonio" . Nenhuma dor - física - me fez chorar tanto. E não sou " chorona"! Muitas vezes, durante a noite, acordo chorando. Dói. Queima. Debilita. Estressa. A frustração de não ter viajado para visitar Gugu e Patati é grande. Estou muito fragilizada, mas grata às pessoas - família e amigos - que, de diferentes formas, amenizaram e amenizam este momento difícil. Quando tudo passar, é certo que valorizarei, ainda mais, o fato de estar bem.

" O maior medo do navegador é o de não poder partir." Amyr Klink

segunda-feira, novembro 17, 2008

A " coisa furiosa'


Frederico, meu sobrinho, após pesquisar herpes zoster , telefonou para minha irmã e disse:

- Tia Aldema está com uma coisa furiosa!

Pedro, meu neto, sonhou que eu me escondia embaixo da cama dele, fugindo de um zumbi que queria me passar uma infecção das braba.

Quando penso no que sofri - e ainda estou sofrendo - com esse herpes zoster , dou razão a Frederico e Pedro : é uma coisa furiosa e das braba!

Meu ânimo melhorou muito com o fim-de-semana que passei em Torres. Cheguei faz pouco de lá. Dias lindos. Mar bonito. Clima de verão. Convivência maravilhosa com minhas irmãs - Alda e Zeli - e com meu cunhado - Ary. Melhorei mesmo!

terça-feira, novembro 11, 2008

Tudo passa!

Já estou razoavelmente bem. Sobrevivi ao herpes zoster - vírus infame esse!
Tenho ainda marcas feias na mão e no braço e dores fortes que vão até o ombro. Meu ânimo, entretanto, melhorou muito. Passei 15 longos e difíceis dias , sentindo-me bastante fragilizada . Tive os cuidados da minha irmã Zeli e do meu cunhado Ary. Eles foram pacientes e atentos comigo o tempo todo. Foi um período duro que me fez repensar atitudes e procedimentos.
Hoje eu deveria estar viajando para Atlanta. Paciência. Projeto adiado!

quarta-feira, novembro 05, 2008

Notícias

Amanheci assim...recordando um poema que, na minha adolescência , em Rosário do Sul, era um charme discutir a autoria e a essência dele. Deve ser do tempo da minha varicela, cujo vírus voltou agora e me trouxe esta dor tão doída e constante.
" Estou doente,
doente dos olhos, da boca, dos nervos até.
Dos olhos que viram mulheres perfeitas,
da boca que disse poemas em brasa,
dos nervos manchados de fumo e café.
Estive doente,
estou em repouso,
não posso escrever.
Eu quero um punhado de estrelas maduras.
Eu quero a doçura do verbo viver." 

domingo, novembro 02, 2008

Obrigada!

Amanheci melhor, ainda com dificuldade de mover mão e braço esquerdos, mas quase sem aquela terrível e constante dor ! É uma dádiva da natureza a rapidez com que supero eventuais problemas.
Foi muito bom receber tantas mensagens e telefonemas. Nas horas de fragilidade , isso conta ainda mais.
"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves
são as únicas
que o vento não conseguiu levar:
um estribilho antigo
um carinho no momento preciso
o folhear de um livro de poemas
o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."
Mario Quintana

sábado, novembro 01, 2008

Imprevistos!

Tudo pronto para viajar!
Seriam 3 dias em Porto Alegre, visitando minha irmã e meu cunhado; 9 dias em Fortaleza, visitando Gugu;12 dias em Atlanta, visitando Patati, Valeria e Massimo.
Saí da Bela União com duas malas - uma de verão, outra de inverno - muitos projetos e a euforia de quem gosta de mover-se.
Não me preocupei com uma dor no polegar esquerdo e algumas " bolhas" que começaram a surgir na mão, embora já me incomodassem ao dirigir o carro.
Passei a tarde em Alegrete. Muitas coisas para fazer. Um cansaço estranho, entretanto, começou a me perturbar. Fui para a casa do meu irmão e resolvi dormir um pouco, pois o ônibus-leito, em que eu viajaria para Porto Alegre, só partiria às 23h30min. Por sorte, chegou Neneca, minha amiga -irmã, para entregar-me um presente, um belo " modelito" que me havia comprado no Rio. Atilada como é, Neneca percebeu que eu não estava bem. Examinou-me e o diagnóstico foi preciso: herpes-zoster
Deu-me medicamentos e recomendou-me procurar um dermato em Porto Alegre. Viajei, ainda que já me sentisse mal, pois começava a ter fortes dores na mão e no braço.
Cheguei cedo na casa da minha irmã. Ela, bem mais esperta e rápida do que eu, localizou um dermato e acompanhou - me ao consultório. O médico, muito gentil e me parecendo competente, ratificou logo o diagñóstico da Neneca e explicou-me detalhadamente o mal que me molestava, o herpes - zoster.
Trata-se de uma doença viral, decorrente da reativação do vírus da varicela ( catapora). Conhecida popularmente como cobreiro, constitui-se de lesões na pele ( vesículas) , que acompanham o trajeto de raízes nervosas, no meu caso, do braço esquerdo. Tem um ciclo evolutivo de 15 dias. Causa muita dor e mal-estar. É comum em pessoas com mais de 50 anos e pode ser contagiosa no contato com crianças.
Aqui estou, procurando aceitar este imprevisto! Deprimida, com manchas que , como escreveu Guimarães Rosa referindo-se ao curso de um rio, serpenteiam sobre o meu braço esquerdo, com muita dor e sem poder viajar. Triste, triste - e consciente da fragilidade humana.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Retorno à UFSM





















Amanda, minha querida amiga, convidou-me para falar aos alunos do Programa de Pós-Graduação em Letras, na Universidade Federal.

Fui direto da Bela União para Santa Maria. Hospedei-me no apartamento da Odete Bernardi, minha irmã , com quem amo conversar.

O programa do evento indicava uma conferência com o título: "Linguagem, História e Memória". Elaborei um texto bastante acadêmico. Quando entrei no espaço da UFSM, depois de dez anos, senti que o texto não sairia da minha bolsa. As palavras brotariam da emoção sentida.

Jovens mestrandos e doutorandos, bonitos, gentis, atentos, ali estavam - e eu os olhava com o carinho que tenho pelo meu passado. Quantas descobertas esses jovens farão. Quanta coisa mais do que eu sei , saberão quando tiverem minha idade. Desejo-lhes paixão pela pesquisa e pelo conhecimento, que descubram o prazer de ensinar e de aprender e que sejam generosos e acolhedores com seus alunos.

Emociono-me ao encontrar Eliana, agora professora e doutora, menina dedicada, determinada, corajosa e boa gente que recordo dentro da minha casa, minha aluna e amiga minha e de meus filhos. Controlo-me para não chorar ao ouvir um ex-aluno do Colégio Agrícola de Alegrete referir as lembranças boas que tem de mim.

Falo. Relembro fatos da minha vida na UFSM, como professora, como pesquisadora e como pró-reitora. Relembro fatos da minha infância. Ignoro qualquer roteiro. Escolho mal as histórias para contar ... poderia ter contado outras com mais conteúdo linguístico...mas a emoção fez suas escolhas.

Saio agradecida à Amanda , às professoras presentes, aos estudantes e ao Jandir ( querido!) , funcionário da UFSM. Faço a viagem de volta sozinha, chorando, rindo e cantando :

"Gracias a la vida,

que me ha dado tanto

Me ha dado la risa y me ha dado el llanto

Así yo distingo dicha de quebranto

Los dos materiales que forman mi canto ..."

segunda-feira, outubro 13, 2008

Chove,chuva...


...chove sem parar aqui na Bela União.
Uso esse tempo , em que sou obrigada a estar dentro de casa, para "pôr em dia" a casa, as roupas, os papéis, os projetos.
Súbito concluo que tenho roupas e sapatos demais. Preciso somente de dois pares de sapato - para que ter mais do que isso?

Viajo, durante cinco meses, com uma mala pequena e não sinto falta de nada, portanto tenho roupas demais aqui. Hora da "desova".

Demorado está sendo mexer nos papéis. Começo com os recortes de jornal , guardados sem nenhuma ordem, nem mesmo cronológica.
Vejo uma foto minha em Roraima ( como eu era jovem!) , no encerramento de um curso de formação para professores índios. Outra em Rondônia - curso de especialização em Língua Portuguesa. Outra em Brasília, com Julio Noto, meu querido amigo e meu vice, quando eu coordenava o fórum nacional de pró-reitores de assistência estudantil e comunitária. Interessante esta foto de um jornal de Cachoeira do Sul: um grupo de trabalho, que eu presidi, para criar um extensão da UFSM naquele município - projeto derrotado pela elite local , que preferiu a ULBRA. Fotos de quando assumi a pró-reitoria de extensão da UFSM , na gestão do Benetti e, depois, quando assumi a pró - reitoria de assuntos estudantis, na gestão do Odilon. Que sorte a minha! Trabalhar com homens tão íntegros e competentes como Benetti, Odilon e Adalberto. Desisto. Arrumarei coisas mais "impessoais". Sinto muita saudade de meus amigos. 

  Demorado está sendo mexer nos papéis. Começo com os recortes de jornal , guardados sem nenhuma ordem, nem mesmo cronológica.
Vejo uma foto minha em Roraima ( como eu era jovem!) , no encerramento de um curso de formação para professores índios. Outra em Rondônia - curso de especialização em Língua Portuguesa. Outra em Brasília, com Julio Noto, meu querido amigo e meu vice, quando eu coordenava o fórum nacional de pró-reitores de assistência estudantil e comunitária. Interessante esta foto de um jornal de Cachoeira do Sul: um grupo de trabalho, que eu presidi, para criar um extensão da UFSM naquele município - projeto derrotado pela elite local , que preferiu a ULBRA. Fotos de quando assumi a pró-reitoria de extensão da UFSM , na gestão do Benetti e, depois, quando assumi a pró - reitoria de assuntos estudantis, na gestão do Odilon. Que sorte a minha! Trabalhar com homens tão íntegros e competentes como Benetti, Odilon e Adalberto. Desisto. Arrumarei coisas mais "impessoais". Sinto muita saudade de meus amigos.                                                                          
"Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer."
......................................................"Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração."

Fernando Pessoa, 15-11-1930.

segunda-feira, outubro 06, 2008

Depressão transitória

Índia
Gosto deste texto:

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina.

Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso.

Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo.

Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.

Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"

Charles Chaplin

sexta-feira, setembro 26, 2008

Paz na terra ...e no cotidiano da Bela União.



Aqui estou, na Bela União dos meus antepassados! Contente comigo mesma!
Ainda tenho ânimo e encantamento para viver a realidade que mais me interessa: a realidade de cada dia, o presente - um presente da vida!
Gosto do meu passado; sinto carinho por ele - até pelas dores sentidas e que, muitas vezes, mais tarde, transformaram-se em fontes de alegria. Sua lembrança é rápida e leve, porque a ele não me prendo e nem o nego. Apenas para divertir-me, gosto de imaginar a seqüência histórica do que poderia ter sido e não foi. É divertido mesmo. Fernando Pessoa escreveu :
" Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido? Será essa, se alguém a escrever, A verdadeira história da Humanidade."
Não tenho preocupações com o futuro, que deve ser decorrência do presente ou surpresa e
mistério. De que vale , portanto, preocupar-se com ele?
Olho as plantas que se modificam a cada estação, mas conservam a beleza da cor e da forma, seja nas folhas, seja nas flores, seja nos frutos. Admiro a generosidade das sementes.
Encantam - me os animais : o porte altivo dos cavalos, a dedicação dos cachorros, as cores bem combinadas dos pássaros, o cantar dos galos na madrugada, a esperteza dos gatos.
E o cheiro da terra molhada, e o barulho da chuva na cobertura da casa, e a sensação de liberdade quando se caminha com o vento ou contra ele? Bendita vida que tanto nos oferece - oferece inclusive a capacidade nossa de mudar, de ficar com raiva, de ter paciência, de rir, de conviver harmonicamente com as diferenças, de fazer escolhas, de poder dizer sim ou não.
Nos últimos dias, per fortuna, convivi com pessoas a quem amo muito, como: Mile e Cibele e João e Ilka, amigos há mais de 40 anos! Convivi, através de contatos virtuais diários, com muitos amigos e antigos colegas. Esse convívio é uma bênção - um presente do presente!

Para meus netos



Conto a vocês uma história da minha mãe que me foi contada pelo Tio Mile.
Ele estava aqui na fazenda e acordou de madrugada porque minha mãe levantara e começara a fazer fogo no fogão à lenha, a organizar a cozinha e a preparar alimentos. Por causa do barulho, tio Mile não conseguiu mais dormir , também levantou e , então, perguntou à minha mãe porque ela levantara tão cedo. Ela respondeu prontamente: para aproveitar! Ele perguntou-lhe: aproveitar o quê? Ela respondeu: aproveitar a vida,ora!

Minha mãe viveu realmente cada momento de sua vida, mesmo que vivesse cozinhando, dando comida para as galinhas, plantando árvores e flores, esperando o ir-e-vir dos filhos...Vivia intensamente cada instante. Aos 80 anos, plantava árvores e fazia planos para quando dessem frutos.
Só ficou triste quando saiu da fazenda e precisou viver na cidade. Já lhe faltava autonomia. Acredito que , então, começou a morrer.

quinta-feira, setembro 18, 2008

Primavera e alergias!



Bela União

Na minha já longínqua adolescência, toda “miss”ou “rainha “ dizia ter lido O Pequeno Príncipe , de Saint Exupéry. Era um sinal de cultura e atualidade!




Eu também li, muitas vezes , esse livro, mas nunca fui “miss”ou “rainha” - era militante de esquerda e participava das raras manifestações feministas da época. Essas futilidades já me pareciam superadas. E eu era até bem bonita – vejo hoje nas fotografias.




Essas reminiscências me foram despertadas pela lembrança da afirmação:
"( Disse a flor para o pequeno príncipe:) é preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas."




Para ver a beleza da primavera aqui na Bela União, preciso suportar as alergias. E muita alergia – tosse e rinite principalmente. Os campos estão verde-verde, o perfume das flores de laranjeira é intenso e constante, o colorido das flores e a doçura das laranjas e limas compensam os meus espirros. A beleza do conjunto compensa a saudade de pessoas e lugares. Muito bom estar aqui.



Frederico e Luciana , meus sobrinhos.

O último fim-de-semana passei-o em Porto Alegre. Ainda que gripada, com tosse e "encarando "500 km de carro, gostei muito de ter ido. O motivo principal da viagem foi o casamento de Frederico e Luciana.
Frederico, filho de Alda, minha irmã, sempre foi muito próximo de mim. Quando morou na Áustria, eu fui duas vezes visitá-lo. Lembro que , numa dessas vezes, ele me apresentou um programa de passeios que havia feito para nós e que incluía uma ida a um parque e um passeio na roda gigante mais alta do mundo. Sempre detestei parques e tive pânico de roda gigante. Sabia, entretanto , que devia ir. Consegui acertar com Frê que ele iria na roda gigante e que eu ficaria "em terra" fazendo fotografias dele.
Quando voltou da Áustria, Frederico fez vestibular para Engenharia Elétrica, na UFSM. Foi aprovado. Ficou morando comigo. Era um menininho. Tinha 16 anos e um braço quebrado numa queda de bicicleta. Na Universidade, ele não queria que seus colegas soubessem que eu era pró-reitora, pois, segundo ele , iam "detoná-lo " - como estudantes, deveriam ser oposição à reitoria. Frê sempre foi muito estudioso, organizado e responsável. Muito centrado em todas as idades.
Fez a graduação em Santa Maria, na UFSM, e o mestrado na UFRGS. Faz agora o doutorado. Logo irá para a Alemanha.
Luciana é um doce de menina: amorosa, tranqüila, bonita. Quero muito que eles sejam generosos e solidários um com o outro e que vivam sempre juntos com alegria e cumplicidade. Que sejam felizes. Que os Anjos os protejam.

sábado, setembro 13, 2008

Precisava?


Estou, já faz dez dias, com uma gripe danada. Fui de Porto Alegre para Alegrete; de Alegrete, para a fazenda. Comecei a ter febre, dores no corpo e tosse assim que cheguei na Bela União. Tentei resistir permanecendo lá porque a primavera já se faz presente com muitas flores e cores e tudo está muito bonito. Impossível. Vim para a cidade. Devidamente medicada, viajei ontem para Porto Alegre, pois queria estar presente, hoje, no casamento de Frederico, meu sobrinho, que morou comigo e a quem eu quero como a um filho.
Mas ter tosse freqüente desmoraliza uma pessoa!
Ninguém merece!

segunda-feira, setembro 01, 2008

"Arrivederci, Roma..."


Meu último dia em Roma. Meu último dia das "férias 2008".
A gente escuta muito a afirmação : "Isso é como ir a Roma e não ver o Papa". Eu estava fazendo pior: estava saindo de Roma sem ver o Vaticano. E é um lugar que eu gosto de ir. Só a Pietà justifica uma visita a essa maravilhosa cidade. Mas estava em casa, sem vontade de sair - fico assim, "nostálgica", em final de viagem. Sorte que ontem Ramon, meu amigo - irmão, convidou-me para jantar hoje. Ele está ministrando um curso para outros padres, num lugar próximo ao Vaticano. Combinei , por isso, de encontrá-lo na Praça São Pedro, jnto ao obelisco da primeira foto. Fui cedo. Fiz algumas comprinhas, fiz fotografias, olhei a Pietà, tomei um café com leite - 17 reais ! - e caminhei muito . Depois, fui comer pizza ,no histórico e tradicional Borgo Pio, com meu amigo.
Conversamos muito, principalmente relembrando nossos tempos no sertão da Bahia e os amigos que deixamos lá: Pe. Luís Tonetto, aqui de Veneza, que tem 40 anos de trabalho bravissimo naquela região; Zoraide, querida amiga que sempre fazia comidinhas maravilhosas no Seminário e ainda fazia um bolo de cenoura para eu levar; Peu, meu afilhado, tão amigo e tão competente quando trabalhava no Instituto de Teologia e Pastoral; Antônio, que eu chamava de "Baixinho" e hoje está bem mais alto do que eu e que será um Padre dedicadíssimo tenho certeza; Vera, que movia a Pastoral da Criança. Tanta gente boa e amiga. Recordamos o ITEPAB e a Creche. Todo o trabalho para colocá-los em funcionamento. Contei-lhe dos meus filhos, da Rosana, da Rosane, do mundo onde vivo e dos sonhos que eu ainda acalento. Ele me disse que, para viajar tanto tempo como eu viajo, precisa ter resistência física e psicológica. Interessante. Física , eu sabia já!

Atualmente, Ramón vive em Madri, onde é responsável pela formação de jovens de vários Continentes. Continua com a esperança, a dedicação e a fé que se percebe e se admira nele. Eu o admiro muito. Ele é meu exemplo de "santo vivo". Despedi-me dele e vim chorando para casa. Depois da morte do Benetti, passei a ter muito medo de perder minha família. E Ramón é meu irmão .

Amanhã farei Roma , Paris, São Paulo. Depois, São Paulo, Porto Alegre, Alegrete - esse último trecho, o mais difícil.

PS. Sou muito grata a Lídia que me hospeda , aqui em Roma, neste apartamento maravilhoso. A última foto eu a fiz a partir da porta do edifício onde estou.