sexta-feira, fevereiro 28, 2014

Colônia no Natal: só faltou a neve...


Anoitecer próximo ao Mercado de Natal, Catedral e Estação de trens.

Colônia ( Koln ), fundada pelos romanos, é a quarta maior cidade da Alemanha e uma das mais antigas do país. Está situada na Renânia do Norte-Vestfalia, e sua população a supera um milhão de pessoas. Superbonita, alegre, simpática e fotogênica,   possibilita um passeio pelos seus dois mil anos de historia, através de monumentos que vão do Império Romano aos tempos modernos . Tem grande importância econômica, religiosa, cultural e fama internacional como metrópole de arte e cultura.

Detalhe da Catedral e do Mercado de Natal
Fez-se famosa, em grande parte, pela  sua imponente e magnífica Catedral gótica, construída partir de 1248 e só concluída em 1880. Essa catedral é a maior igreja da Alemanha e uma das mais importantes da Europa. Suas duas Torres têm 157 metros de altura. São famosos seus tesouros - tem muitos objetos de ouro - e seus vitrais góticos do século 14.Quando foi concluída, em 1880 portanto, era o prédio mais alto do mundo. É Patrimônio Mundial da UNESCO.
Mercado de Natal próximo à Catedral
Segundo a tradição, no interior da catedral , num relicário de ouro, feito por Nikolaus von Verdum, estão guardados os restos mortais dos três Reis Magos: Baltazar, Melchior e Gaspar.Contam que essas relíquias foram trazidas da Itália, diretamente para Colônia, em 1164, pelo imperador Frederico I, o Barba-Roxa, como ficou conhecido.

Catedral
Minha primeira visita a Colônia foi há vinte anos, e meu objetivo era conhecer a famosa catedral gótica, que atrai visitantes de todo o mundo. No início da visita, achei-a escura, depressiva, um pouco assustadora - um lugar onde eu jamais iria numa sexta-feira 13, à noite. Aos poucos, fui apreciando seus tesouros e deixando-me comover com sua magnitude e beleza difícil.

Alex, Pedro, Ronald e Gisela na porta da Catedral

Planejamos, para nossa viagem 2013/2014, permanecer oito dias em Colônia, no período das festas natalinas, por dois motivos. O primeiro foi a localização da cidade em relação a rede de trens. É a  base ideal, na região,  referente ao transporte ferroviário, facilitando passeios a  lugares lindos num bate-e-volta de um dia.

Sempre muitos visitantes nos Mercados
O segundo, visitar seus belíssimos Mercados de Natal, os mais antigos da Alemanha, que recebem  anualmente dois milhões de visitantes. Na cidade, há sete mercados - o maior e mais interessante deles está localizado  nas proximidades da Catedral e da Estação de Trens, onde também está a maior árvore de Natal da Renânia.

Árvore de Natal próxima à Catedral

Os Mercados de Natal, em toda a Alemanha, iniciam ao redor do dia 23 de novembro e encerram no dia 23 de dezembro. Geralmente, abrem às 10h e fecham às 22h. Pode-se almoçar e jantar nos Mercados, onde se encontram comidas típicas germânicas por preços bem acessíveis e onde  é vendido vinho quente em canecas decoradas com motivos natalinos. Se a gente devolver a caneca, recebe metade do valor pago - eu preferi ficar com a minha!

Delícias de Natal no Mercado
Realmente, o Natal uma festa para todos os sentidos. Cenários lindos, muita gente, muitas crianças, encantadas com os brinquedos oferecidos, comidinhas e doces deliciosos, corais e bandinhas...Como estávamos hospedados nas proximidades da Estação Central de Trens e, consequentemente, no entorno da famosa Catedral, ouvimos, durante meia hora, a partir da meia noite do 24 de dezembro, inesquecível e emocionante concerto, originados da igreja principal e de todas as igrejas da cidade. Chorei!

Centro Histórico de Colônia

Apesar de a Catedral ser uma referência forte, e os Mercados serem muito atrativos, pois, além das outras atrações já referidas, vendem, entre outros itens,  chocolates, elementos para decoração natalina,  roupas,  aparelhos eletrônicos e artesanato típico, Colônia pode mostrar muitas outras atrações aos turistas e viajantes, como parques, museus, jardim zoológico, jardim botânico, torres, teleférico e passeios pelo Reno.

Ponte sobre o Reno
Embora eu não curta praia, a água me fascina, especialmente  água de rio. Encanta-me saber sobre a nascente, a foz, a direção que toma, o percurso e os obstáculos que contorna. Sou fascinada pelo Reno,um rio com 1320  km, que nasce nasce de um glaciar, nos Alpes Suíços,  e deságua no mar do Norte, junto à cidade holandesa de Roterdam.

O Pedro e o Reno

É o percurso fluvial com maior tráfego do continente europeu. Caminhar pelas margens do Reno é sempre um belo passeio - e para quem gosta da famosa cerveja local, há muitos bares próximos de onde se pode beber e ter uma bela visão do Reno, o rio que torna a cidade de Colônia ainda mais encantadora.

Colônia : Centro Histórico

Uma visita interessante pode ser feita à casa 4711, na Glockengasse, onde nasceu a mundialmente conhecida Água de Colônia ( Eau de Cologne ). Há muitos séculos, era conhecida como água medicinal. Conta-se que foram, entretanto,  os soldados de Napoleão que, ao passarem pela cidade, gostaram da água que brotava de uma fonte da casa número 4711 e a chamaram assim. Nesse endereço, hoje, vendem-se o perfume tradicional e outros produtos de beleza e  mostra-se a história da Água de Colônia.

Torta no Museu do Chocolate

Para a meninada, um passeio interessante é ao Museu do Chocolate, situa ás margens do Reno, não muito longe  da Catedral. A exposição conta a história do cacau, descoberto há mais de três mil anos, na América Central, do cultivo à industrialização. Paineis interativos informam sobre colheita,secagem e fermantação dos grãos. A fabricação e comercialização do chocolate é demonstrada, especialmente seu desenvolvimento no último século. O Museu tem  loja própria , com produtos fabricados pela Lindt. No térreo, há também uma cafeteria, com tortas deliciosas. Uma perdição! Uma tentação para qualquer idade.

Centro - proximidades do Reno

O acesso a Colônia é bastante fácil. Viaja-se, por exemplo, de Londres para Colônia, via Bruxelas, no Euroestar em menos de cinco horas. O trajeto Paris/Colônia pode ser feito de trem em quatro horas.Além dos muitos trens, há linhas de ônibus e de barco. O aeroporto Bonn/Colônia  apresenta conforto e bom atendimento e dele partem vôos de várias companhias aéreas, incluindo low costs, como a Germanwings com que fomos para Edinburgh. Há bons hoteis com preços razoáveis próximos à Catedral e no entorno da Estação Central de Trens. Bem que eu queria voltar no tempo e voltar a Colônia nesse tempo.

Aeroporto Colônia/Bonn

"Nuvens sobre a floresta...
Sombra com sombra a mais...
Minha tristeza é esta - 
A das coisas reais.
.............................................
Impalpável lermbrança,
Sorriso de ninguém,
Com aquela esperança
Que nem esperança tem..."

Fernando Pessoa

quarta-feira, fevereiro 26, 2014

Fernando Pessoa - Texto

Exposição de flores - País de Gales

"Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento do ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das  outras:
compreendi isso com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isso com o pensamento seria achá-las todas iguais.

Um dia deu-me sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi."

Fernando Pessoa

domingo, fevereiro 23, 2014

Bonn, onde nasceu Beethoven.

Centro Histórico de Bonn

Recordarei a visita a Bonn, no dia de Natal, com carinho e saudade....para  sempre. Pedro, Ronald e eu, acompanhados de mapas e roteiros, feitos por Gisela e Alex, partimos de Colônia, carregando presentes, alegria e afeto. Íamos ao almoço natalino com pessoas muito queridas: a familia Arintzis. Emanuel e Alex nos esperavam na Estação de Trens.



Entradas no almoço de Natal

Gisela nos esperava com a mesa posta, lindamente decorada, deliciosamente preparada, combinando pratos gregos e alemães. Esperava-nos também a pequena Joanna, filha de Emanuel, que, com seus 11 anos, ajudava a avó e nos recebia como gente grande.



Prato principal


Pedi para Gisela uma cópia do cardápio. Queria dividir essas informações com gente amiga que gosta de cozinhar.Ela, então, escreveu:
Entradas: Sarmades ( aquelas trouxinhas gregas deliciosas); torta de galinha; bolinhos de carne; tomates secos com azeite de oliva; frutos do mar.
Prato principal: purê de batatas ( assados como se fossem pãezinhos); filé de suino com creme de nata; e ervilhas e cenoura baby na manteiga.
Sobremesa: torta e sorvete deliciosos.



Centro Histórico de Bonn

Após o almoço, fomos, com nossos amigos, visitar Bonn. Não são muitas as ex-capitais que conheço, principalmente uma ex-capital que conservou fama e charme e é bastante visitada por turistas nacionais e internacionais. Entre 1949 e 1992, a cidade foi capital da República Federal da Alemanha.Hoje tem cerca de 300 mil habitantes, é cosmopolita e destaque econômico e cultural no país.


No Centro, bela iluminação natalina





Bonn surgiu, ainda no período pré-romano, como local de passagem sobre o rio Reno. Tornou-se muito importante com a chegada dos poderosos arcebispos de Colônia, no século 13. Há uma exposição permanente da Fundação Casa da História ( Haus der Geschichte ) que conta a história da cidade e narra o contexto político da pós-guerra até a reunificação.



Munsterplatz e Basílica ao fundo


A Basílica e a Rathaus ( Prefeitura ) são visitas imprescindíveis. Na praça  Münsterplatz, está a Basílica de Bonn, construída nos séculos 11 e 12 em estilo românico e gótico. A Prefeitura foi construída no final do período barroco - 1737 - 1738. Foi destruída em 1944/1945 e reconstruída de acordo com seu projeto original. É o cartão postal da cidade.



Praça do Mercado


Imprescindível também é uma visita à Praça do Mercado ( Marktplatz ). O Mercado,  com seus prédios estreitos que mesclam arquitetura moderna e barroca, situa-se na rua favorita  para quem faz compras em Bonn. Essa rua é a maior pedonal contígua da Alemanha. Fiquei encantada com as cafeterias da Praça - além de elegantes e bem atendidas, servem tortas fantásticas.



   



A cena cultural em Bonn é constante e de alta qualidade. Sua fama como cidade das artes é bem difundida. O Teatro de Bonn é conhecido pelas suas produções de repercussão internacional. Desde 1992, realiza-se aqui a Bienal do Teatro.



Arte em espaços públicos


Há muitos museus na cidade. De arte, informaram-me que dois deles merecem demoradas visitas: o Museu de Arte de Bonn e o Salão de Artes e Exposições da República Federal da Alemanha. Mais um motivo para retornar! Além dos  museus,  há fantásticos exemplares de arte e arquitetura nos espaços públicos da cidade.



Casa de Beethoven + grafite em frente a ela


Como se não bastassem todos os belos atributos da cidade, ainda nasceu aqui Ludwig van Beethoven, numa rua tranquila, numa casa simples, construída no século 18, em estilo barroco. A Beethovenhaus hoje abriga um museu, onde estão preservados escritos originais dele. Interessante que, pelos registros, os japoneses são os que mais visitam o museu.



Estátua de Beethoven


Bonn de muitas formas homenageia seu cidadão famoso. Uma dessas homenagens é a Beethovenfest, uma série de concertos que todos os anos , nos meses de setembro e outubro, mostram ao público a beleza da  grande música clássica. Há outro espetáculo de música bastante conhecido na cidade, quando uma frota de embarcações cruza o Reno, entre fogos de artifícios e sons de tendências variadas. É o Rhein in Flammen.



Universidade de Bonn


Fundada em 18 de outubro de 1818, por Frederico Guilherme III, rei da Prússia ( de que fazia parte a Renânia)  possuía, ao seu início, os cursos de Teologia, Direito, Farmácia e Estudos Gerais - não consegui saber a abrangências desses Estudos Gerais, mas vou pesquisar porque fiquei bastante curiosa. Teve como precursora a Academia de Bonn, fundada em 1777. 



Universidade de Bonn

O curso de Teologia estava dividido entre Teologia Católica Romana e Teologia Protestante. Posteriormente criou os cursos de Medicina e Filosofia. A Faculdade de Filosofia atualmente é a maior, tendo cerca de 10 mil alunos. A Universidade iniciou com 35 professores titulares e 8 adjuntos. Seu prédio impressiona pela imponência e grandiosidade.Mais que os prédios, porém , impressionam seus professores e seus alunos, que realmente construíram uma história de excelência e competência.



Universidade de Bonn


A Universidade está classificada na 3a. posição no ranking das universidades alemãs e , num ranking mundial ,divulgado pela Espanha, está em 6o. lugar. No quadro dos professores, constam 9 ganhadores do Prêmio Nobel - entre eles Luigi Pirandello. Na relação dos alunos que a frequentaram estão Conrad Adenauer, Papa Bento XVI, Jurgen Habermas, Karl Marx e Friedrich Nietzsche. Era dia de Natal. Foi impossível visitá-la toda, como eu gostaria. Outro motivo para retornar.


Centro Histórico

Agradeço muito a Alex, Gisela, Emanuel e Joanna por este dia tão especial, tão bonito, de que Ronald , Pedro e eu gostamos tanto. São lembranças como essas que me ajudam a suportar a dor pela perda de meu marido e a construir um novo caminho, pavimentado com a saudade e desenhado com a vontade de continuar vivendo.


Alex fotografou Ronald fotografando a Pedro e a mim

" Nem tudo é dias de sol,
E a chuva , quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade.
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ... "


Fernando Pessoa

Em agradecimento : https://www.youtube.com/watch?v=983rtDXkFek&vl=pt

segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Heidelberg, mais além do Castelo.


Rio Neckar, em Heidelberg
Visitei Heidelberg em 2006. Tanto gostei da cidade, que a incluí nesta viagem, desejando mostrá-la a Ronald e Pedro. Já li que é a mais bonita do interior da Alemanha. Penso que não -  concordo, no entanto, que é uma das mais bonitas.
Pedro tambem gostou da cidade
Li também , numa  pesquisa realizada há dois anos, que 96% dos moradores adoravam viver nessa cidade e a consideravam bonita e agradável. Acredito. É agradável e com excelente qualidade de vida. É interessante visitá-la em qualquer mês do ano; no período natalino, entretanto, torna-se fantástica.

Chegada em Heidelberg


Com menos de 150 mil habitantes, dividida em 15 bairros distintos, está situada nas duas margens do rio Neckar, importante afluente do rio RenoNeckar nasce na Floresta Negra e corre através de montanhas, passando por  cidades que merecem uma visita, como Tübingen, Stuttgart e Heidelberg. Seu comprimento total - da nascente até o Reno - é  de 367 km.

Cores de inverno
Formam-se com ele cenários de rara beleza, que propiciam passeios agradáveis, incluindo o encontro com pontes antigas  e esculturas bonitas. Passeando ao redor da cidade medieval, podem ser vistos preciosos  edifícios renascentistas com muitos detalhes para serem observados. É imprescindível, ainda,  uma visita à famosa  Ponte Velha , à Universidade de Heidelberg e , óbvio, ao Castelo.

Antiga ponte sobre  o rio Neckar,
O primeiro referência a Heidelberg data de 1196 e está em documento de um dos sete príncipes eleitores do Sacro Imperio Romano-Germânico, mas a data mais marcante para a cidade é 1386, quando foi fundada por Ruprecht I , a Universidade de Heidelberg, a mais antiga da Alemanha.

Vista do Castelo de Heidelberg
Hoje essa Universidade é bastante conhecida e respeitada na área de medicina - muitos estudantes a procuram e fazem nela sua formação profissional.  Sua Biblioteca, construída entre 1901 e 1905 , possui um dos maiores acervos bibliográfico da Alemanha,  com mais de dois milhões de livros.

Centro Histórico de Heidelberg - foto da internet não identificada
Como vibrante cidade universitária,  tornou-se cosmopolita, amigável, orientado para o bem - estar das  pessoas atraente para as famílias, os estudantes e os pessoal das indústrias criativas. Reúne empresários e acadêmicos, pesquisadores e interessados em arte, mantendo o que há séculos a caracteriza : uma agitada vida cultural.Foi  um dos centros da Reformas Protestante, tendo acolhido Lutero em  1518.


Mercado de Natal no Centro Histórico
A presença da música é constante na cidade. No período que antecede ao Natal, além de ser constante é variada. São corais, orquestras, pequenos grupos, apresentações individuais, com repertório clássico de músicos  famosos, como Bach e Beethoven, ou populares de altíssimo nível . Festa para todos os sentidos.


Música natalina
A cidade oferece, mais além da reconstrução no início do século 18,  realizada após as invasões francesas que destruíram a Heidelberg medieval, edifícios barrocos, uma catedral que é  símbolo da cidade, um grande museu com destaque para a área de arqueologia, galerias de arte e muitos hoteis, restaurantes e cafeterias. A estação de trens é próxima ao centro, e os passeios a pé, pela cidade, são imperdíveis.

Vista da cidade a partir da janela do Castelo

Penso que a Alemanha é indispensável nos roteiros de quem curte História, e uma sugestão que me parece interessante para essas pessoas, é seguir a German Limes Route ( Deutsche Lime-Strasse), uma das 150 rotas , com as mais diferentes motivações, que oferecem os guias de turismo nacional. 
Detalhe da fachada do castelo

A Limes  é uma rota turística , Patrimônio Mundial da UNESCO, que acompanha a antiga fronteira entre as tribos germânicas e o Império Romano. Na Limes , está Heidelberg com seu castelo, que dizem ser o símbolo e a alma do romantismo alemão.

Detalhe do castelo

Pertencente à Dinastia dos Wittelsbacher, construído em 2300 como fortaleza, com torres, casamatas e fossos, passou por várias ampliações e reformas, entre os séculos 13 e 17. Originalmente, era um castelo em estilo gótico fortificado.

Centro Histórico de Heidelberg


O Castelo, no alto da cidade, impressiona desde longe, pelo seu entorno e pela sua imponência. Pode-se chegar até ele por um funicular ou caminhando - caminhada com dificuldade média para pessoas como eu, e fácil-fácil para pessoas como Ronald e Pedro. Melhor é ir andando e observando os ângulos diversos do castelo e a beleza dos jardins. Heidelberg é cidade para ir e... retornar.
Ronald e Pedro divertindo-se com minhas fotos


"O essencial é saber ver ,
Saber ver sem estar a pensar,
Saber ver quando se vê,
E nem pensar quando se vê
Nem ver quando se pensa."

Fernando Pessoa

sexta-feira, fevereiro 14, 2014

" Assim é..."





"Nem tudo é dias de sol,
E a chuva , quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade.
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha, pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica....
Assim é e assim seja."


Fernando Pessoa

quinta-feira, fevereiro 06, 2014

Aachen, uma cidade entre três países.

Escultura próxima à Estação Central de Trens, em Aachen.
Três motivos levaram-me a incluir Aachen na minha wishlist para esta viagem 2013/2014:
a ) foi a primeira cidade alemã a ter um edifício - sua Catedral - incluído no Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, isso em 1978.  Saliente-se que  eu sou perseguidora dos destaques dessa organização; 

Detalhe da parte externa da Catedral
b) durante 18 anos, dediquei uma parte de meu tempo acadêmico ao estudo de fronteiras - geográficas e culturais - tema que sempre me encantou. Aachen tem sua localização muito próxima a dois países, sendo a primeira cidade alemã quando se vem da Bélgica;
Estação Central de Aachen - Hauptbahnhof
c) e, por último, a Catedral de Aachen, que é realmente fantástica - tão fantástica que conseguiu surpreender-me mesmo depois de tê-la visto , muitas vezes, em filmes e fotos. É a mais antiga do norte da Europa e  a principal atração da cidade.
 
O encanto da paisagem de inverno
Fomos a Aachen a partir de Colônia, percorrendo 90 km de trem, por um caminho que parece ter-se materializado a partir de telas impressionistas de rara beleza. O percurso é parte do encanto desse passeio. Chega-se à  Estacão  Central de Trens em meio a uma beleza continuada. Daí, acessa-se o centro histórico por ruas bem sinalizadas.

Centro Histórico
Com menos de 300 mil habitantes, o passeio à cidade pode ser feito durante um dia, percorrendo todo o centro histórico,  caminhando e surpreendendo-se a cada trecho - ainda mais neste tempo de Mercados de Natal. Sua história é rica; seu nome, um indicativo interessante do que se vai ali encontrar.

Escultura com mobilidade
Os holandeses a conhecem como Aken; muitos belgas e alguns franceses a chamam de Aix-la-Chapelle. Interessante mesmo é seu nome latino : Aquis Grani , que remete q origens remotas do lugar. Remete ao tempo em que os Celtas veneravam Grannus , o deus das águas e das curas. Foi, no entanto, somente em 1546, que se publicou o primeiro tratado sobre o efeito curativo das águas de Aachen.


Foram os romanos , no séc. I d.C. , os primeiros a apreciar as águas minerais que jorravam das fontes de Aquisgrand. Até hoje essas águas brotam no solo com temperatura de até 70 graus. Contam que foi esse o motivo por que Carlos Magno - bem mais tarde - fez seu domicílio permanente próximo às famosas fontes. Com o tempo, tornou-se o balneário favorito da Europa - que muito contribuiu para o desenvolvimento econômico da cidade.

Mercado de Natal em Aachen
Imaginem a alegria de Carlos Magno - a quem Frederico Barbarossa santificou, em 1165, mesmo sem reconhecimento do Vaticano - ao descobrir um lugar para banho, quentinho e agradável, com propriedades curativas, numa época em que banho era raro, frio e não fazia parte dos costumes ? Foi a descoberta de um superspa! Carlos Magno, que não era bobo, transformou Aachem no centro de seu poderoso império, onde construiu palácio, capela, academia e banhos termais e onde passou a convidar e a receber as celebridades da época.Grandes banhos. Certamente grandes festas. Ainda hoje existem 27 fontes de águas medicinais na cidade.

Detalhes do Centro Histórico
Aachen é hoje uma bela cidade que combina o antigo e o novo ,  o encanto histórico e o desenvolvimento urbano e industrial. Com muita gente bonita, esculturas fantásticas pelas ruas, griffes famosas, galerias de arte, cafés, restaurantes, livrarias, teatros, pontes, universidades, castelos, igrejas  e relíquias, harmonizando estilos e narrando, dessa forma, sua trajetória. Nem parece que, em 1656, um incêndio reduziu a cinzas 90% de suas casas e que , na Segunda Guerra Mundial, dois terços da cidade foi totalmente destruída. Admirável a força e a capacidade de inovar das gentes.

Fonte das Bonecas

Dentre as inovações de Aachen, encantaram-me , em especial, três delas - em áreas e com propostas diferentes:  a Fonte das Bonecas ( Puppenbrunnen) , o prêmio da prefeitura e o prêmio do bom humor. A Fonte foi construída em 1975, pelo escultor Bonifatius Stirnberg. As figuras, com vinculação à historia e às particularidades de Aachen, são articuláveis, sendo possível mudá-las de posição e criar novas temáticas. Pedro gostou muito das experiências que lhe possibilitavam o mover das peças.

Centro Histórico
Desde 1950, a cidade entrega, anualmente, o Prêmio Internacional Carlos Magno. Recebem essa distinção personalidades ou organizações que se destacaram por seu trabalho em prol da unificação da Europa. O outro prêmio , que me encantou ainda mais, foi o prêmio contra a sisudez , outorgado a personalidades da vida pública que, desde os seus postos de trabalho, destacam-se pelo bom humor e pelo senso de humanidade. Cruelmente, ocorreu-me pensar numa mescla de Miss Simpatia com Madre Teresa...

Maquete da Catedral de Aachen
A Catedral  de Aachen é uma das mais peculiares e mais bonitas que eu conheço. Foi construída a partir da Capela , mandada fazer por  Carlos Magno, no fim do século VIII , como parte do conjunto palaciano. Serviram-lhe de modelo os edifícios bizantinos de planta centralizada. Mostra hoje influências de diferentes épocas e estilos - como o coro gótico e as cúpulas barrocas. Na Catedral, está sepultado Carlos Magno.

Catedral de Aachen
Encontram-se , ainda, na Catedral, belíssimas colunas de mármore e granito, que , por ordem de Carlos Magno, foram trazidas de Ravenna e de Roma. Napoleão Bonaparte também gostou dessas colunas, tanto que determinou que as colunas do pórtico fossem levadas para a França. Algumas regressaram à cidade; outras foram quebradas ao serem transportadas. Quatro delas, entretanto, permanecem no Louvre.

Detalhe das colunas da Catedral
Concordo que a Catedral é o tesouro arquitetônico maior de Aachen. Há, todavia,  outros tesouros que merecem acurada visita, como: as igrejas de São Nicolau e São Paulo; o Paço Municipal (Rathaus, em alemão), construído no século XIV;  a Sede do Bispado; a universidade técnica, o Museu Suermondt, o Museu Internacional do Jornal,  a praça do mercado (Marktplatz), a fábrica de chocolates Lindt e o Jardim Zoológico. extremamente bem montado, no seu limite ocidental. Para quem curte hipismo, no mês de julho, anualmente, acontece um famoso torneio internacional, que reúne milhares de pessoas na cidade.
.
Loba de Bronze na entrada da Catedral
Havia esquecido da lenda que explica a presença de uma loba na entrada da Catedral. Antes tarde que nunca, passo a reproduzi-la como a ouvi ... Andavam os cidadãos de Aachen irritados e com inveja da vizinha cidade de Colônia, que estava construindo uma grande catedral. Queriam uma também, que além de grande fosse de rara beleza. Faltava-lhes, entretanto, dinheiro para acelerar e embelezar a construção. Esses cidadãos, então,  fizeram um pacto com o diabo para obterem dinheiro e construirem a catedral rapidamente.

A alma da loba teria saído pelo orifício do peito
A condição imposta pelo diabo foi que ele pegaria a alma da primeira criatura que entrasse lá depois da inauguração. Na inauguração, entretanto, fizeram entrar , em primeiro lugar, uma Loba. O diabo ficou enfurecido e quis agredir a todas as pessoas, que se trancaram no interior da Catedral. Ele tentou abrir com a mão, mas ele prendeu o polegar direito na maçaneta, e perdeu-o  ali. Esse polegar ainda está na maçaneta - enxerguei - o como um pino! Mais furioso ainda, o diabo chutou a porta com o pé direito : no lugar do chute,  porta tem uma rachadura.

Pedro conversando...
Lembrar de Aachen, faz-me lembrar, entre outras coisas,  dos Printen,  doces típicos da cidade, uma espécie de pão de mel com confeitos e recheios de frutas e sementes;  dos 50 mil  estudantes universitários vindos de todos os cantos do mundo; do Museu Internacional da Imprensa da cidade, que se vem transformando em um museu de mídias, com mais de 200.000 jornais de todo mundo; do convívio harmonioso do novo com o antigo. Como se isso não bastasse, Aachen é a cidade onde nasceu nosso querido Emanuel Arintzis, filho de Alex e Gisela.

Ronald e Pedro, retornando à Estação de Trens.

"Como o olhar, a razão
Deus me deu, para ver
Para além da visão - 
Olhar de conhecer."

Fernando Pessoa