quarta-feira, dezembro 31, 2008

Aos meus netos






































Gostaria de viver e de conviver com vocês tempo suficiente para contar-lhes o que ouvi de minha mãe sobre ela mesma e sobre meus avós. Gostaria de contar-lhes também sobre minha infância no meio rural , sobre meu sonho de ir à escola, estudar e aprender muitas coisas. Contar-lhes sobre os cães e os gatos que tive, sobre as travessuras que fiz, sobre o mundo que eu imaginava existir e sonhava conhecer.








































Armazeno informações. Um dia - quem sabe - eu possa romper barreiras de tempo e de espaço e contar-lhes o que não consegui contar aos meus filhos. Eles cresceram muito rápido. Eu nem cheguei a perceber que cresciam. E eles foram para longe. E eu tentei dar muita intensidade para a minha vida
para diminuir a dor da ausência que eles deixaram.
Feliz 2009. Feliz vida.

31/12/2008

Leva-me longe, meu suspiro fundo,
Além do que deseja e que começa,
Lá muito longe, onde o viver se esqueça
Das formas metafísicas do mundo.

Aí que o meu sentir vago e profundo

O seu lugar exterior conheça,
Aí durma em fim, aí enfim faleça
O cintilar do espírito fecundo.

Aí ... mas de que serve imaginar

Regiões onde o sonho é verdadeiro
Ou terras para o ser atormentar ?

É elevar demais a aspiração,

E, falhado esse sonho derradeiro,
Encontrar mais vazio o coração.

Fernando Pessoa

terça-feira, dezembro 30, 2008

Serra Gaúcha via Torres/SC



















Serra Gaúcha: uma surpresa agradável até para quem vive no Rio Grande do Sul e a visita de vez em quando. Fomos de carro, Mile, Cibele, Fabianinha e eu, a partir de Torres, seguindo o roteiro por Santa Catarina. Neste momento , a única dificuldade e localizar a saída para Praia Grande, visto que a BR 101 está em obras , e as placas de sinalização ou não existem ou estão encobertas. Vai-se , por estrada asfaltada, até Praia Grande, depois , por estrada de terra, até a divisa SC/RS .




















A paisagem é deslumbrante, especialmente quando se sobem os 1070 metros até Cambará do Sul. De Cambará, fomos ao Parque Nacional dos Aparados da Serra. Belo parque ( mas com infra-estrutura precária). Natureza exuberante. Canyons estupendos. Cachoeiras lindas. Muitas bromélias. Sobreposição intensa de tons verdes. Beleza de tirar o fôlego. Percorrer as estradas da Serra já é um inesquecível passeio, principalmente nestes dias, quando se formam verdadeiros murais de hortênsias floridas.





















Fomos ver também a iluminação de Natal de Gramado e Canela . Muitas figuras e cenas natalinas, resultado de um trabalho comunitário que se renova a cada ano. Gostei muito da decoração que vi em Canela, especialmente quando nos percorremos a rua da Igreja e dela nos aproximamos.



                                                                                         

















A Três Coroas fomos porque eu queria visitar Maíra, minha afilhada muito querida, que vive ali, no Mosteiro Budista e para quem eu comprara um presente em Mac Load Ganj, na Índia . Não a vi porque era segunda-feira, ela não estava e não era dia de visita àquele comovente local. Voltarei. Jantamos em Gramado e retornamos por São Francisco de Paula e Rota do Sol até Torres. Lembrei-me de Alex e Gisela e lamentei não tê-los acompanhado até os Aparados da Serra - lugar que merece realmente ser olhado e relembrado.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

Natal 2008























Tivemos uma boa festa de Natal. À noitinha, Mile, Cibele, Pedro e eu fomos de Torres para a casa da Zeli e do Ary, em Capão. Lá estavam também Fernando, Igor, Lilian, Juninho, Gonçalo e Isadora , esta vivendo seu primeiro Natal. Foi uma noite tranquila e bonita com um jantar excelente. As muitas risadas ficaram por conta do Papai Noel, sempre de botas vermelhas de verniz, muitas pulseiras, unhas pintadas, perfumado e com a leveza inteligente e divertida da Zeli. . Até Gonçalo, com seus três anos, confidenciou: acho que o Papai Noel  é a VOINHA























Este foi, portanto, o ano em que Gonçalo deixou de acreditar em Papai Noel. Estava na hora, segundo Pedro. Agora só restam a Isadora e o Joaquim para acreditar. A cara do "bom velhinho" , neste ano, era nova e era sorridente! A do ano passado, tinha já um arranhão na face e um olho diferente do outro. Não sei qual das duas era mais assustadora ( ou engraçada!) Senti a falta de algumas pessoas, mas felizmente já aprendi a respeitar as escolhas e aceitar as impossibilidades. Importa mesmo a construção de belas recordações especialmente nos pequenos. Falávamos ontem de quando os pais das crianças de agora eram as nossas crianças. Tempo voa!

























Pedro se despediu dos primos dizendo: até daqui a um ano! É a certeza de quem tem 9 anos de idade. Os mais velhos já estão na fase de agradecer por mais este ano.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

"É verão..."


Ischia, bela ilha da Italia
 Em Torres e em casa outra vez : uma casa plena de recordações boas - porque as ruins , por sorte minha, eu as apago facilmente. Como escreveu Cícero, em Saber Envelhecer: "Não se sofre por ser privado daquilo de que não se sente saudades".
Dias lindos. Muita paz. Saudades, apenas, de meus filhos e de alguns amigos. Meus irmãos e sobrinhos ou chegam amanhã ou estão por perto. A consciência da brevidade e da fragilidade da vida me faz viver intensamente - até os momentos aparentemente tediosos. Aqui devo permanecer até final de janeiro.
"Quanto mais eu sinta, quanto mais eu sinta como várias pessoas,
Quanto mais personalidade eu tiver,
Quanto mais intensamente, estridentemente as tiver,
Quanto mais simultaneamente sentir com todas elas,
Quanto mais unificadamente diverso, dispersadamente atento,
Estiver, sentir, viver, for,
Mais possuirei a existência total do universo,
Mais completo serei pelo espaço inteiro fora."
Fernando Pessoa

domingo, dezembro 14, 2008

Feliz 2009!


Chandigard - India
 "E é sempre melhor o impreciso que embala do que o certo que basta,
porque o que basta acaba onde basta, e onde acaba não basta. E nada que se pareça com isso devia ser o sentido da vida..."
Fernando Pessoa

Desejo-lhes que 2009 seja um ano de descobertas especiais e maravilhosamente inesquecíveis.

sexta-feira, dezembro 12, 2008

"São Longuinho,São Longuinho..."

Estou irritada comigo. Vivo perdendo coisas. E não é sintoma de envelhecimento : sempre fui assim, distraída.
Quando criança, na fazenda, saíamos a cavalo. Eu sempre seguia outro rumo ou me afastava das outras crianças ou me perdia. Minha justificativa era sempre a mesma: eu estava pensando!
Panelas e chaleiras esquecidas no fogo, janelas e portas abertas, compras em duplicata, troca de nomes, foram fatos normais na minha vida. Quando a Rosana estava grávida do Daniel, fui a um congresso em Fortaleza e comprei para ela dois vestidos. Ao abrir os pacotes, verificamos que eram absolutamente iguais. Outra vez , passei uma temporada de praia chamando o marido de uma amiga pelo nome do ex-marido dela - e me sentia injustiçada porque o homem parecia não gostar de mim.
Entre meus alunos, circulavam muitas histórias sobre minhas distrações. Uma vez estacionei o carro e fui dar aulas. Ao término delas, depois de muito procurar o carro, concluí que havia sido roubado. Ainda bem que, antes que eu avisasse a polícia do suposto roubo, um colega me lembrou que eu o havia deixado na frente de outro prédio.
Não lembro de esquecimentos relacionados a compromissos de trabalho. De lazer, sim. Esqueci-me muitas vezes. Aos meus alunos, eu costuma avisar da minha incapacidade de aprender seus nomes - compensada pela capacidade de identificar -lhes a letra e o estilo textual mesmo depois de muitos anos.
Escrevo sobre isso tentando convencer-me de que não estou com esclerose agora. Fui sempre assim.
Hoje, consultei até o "Santo Google" sobre objetos perdidos. Fiz, então, todas as "simpatias" e rezas ensinadas ali. Desta vez, está sendo dificil porque, além de mim, outras pessoas (Alda, Zeli, Mile, Igor e Lilian) estão me ajudando na procura de um documento valioso: meu passaporte. Faz uma semana que o procuramos. Eu estava certa que o colocara na mala que uso para viajar. Já desfiz essa mala três vezes sem resultado. Nada. E preciso do passaporte. Preciso de visto para o Egito - e o prazo está no limite. Sinto-me cansada e desanimada. Mas continuo procurando.
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PS. Achei o passaporte. Estava na mala onde, por três vezes, eu o procurara.
Agora é pagar as promessas. Começo com os três pulinhos, prometidos a São Longuinho...

sábado, dezembro 06, 2008

" É Natal, é Natal...."

Dezembro chega, Natal já é. Fico sensível demais neste mês. Qualquer dim-dom-dom me faz pensar em familiares e amigos distantes, em festas passadas, em momentos inesquecíveis. Casa de Torres, meus filhos em diferentes idades, meus irmãos , meus sobrinhos, empregados, amigos, preparação da ceia, escolha de presentes, surpresas boas - um desfile de lembranças natalinas. Festa de Natal na Bela União , Papai Noel ( sempre a Zeli) chegando a cavalo, vindo do mato próximo, com malas de presente na garupa. Festa de Natal , quando conheci o Ron, na belíssima casa da Nica, em Illinois, com muita neve, muita gente e lindos pacotes. Festa de Natal no apto em Santa Maria, batizado do Pedro, meus filhos e muitos amigos, numa noite clara e bonita. Poucos dos meus Natais foram tristes - eu lembro particularmente de três - marcados por solidão, perdas ou traições. Não quero esquecê-los porque me ajudam no contraste com outros maravilhosos.
Fico, por isso, desde agora , querendo para todos um Natal com alegria e paz, amigos sinceros, família próxima, lembranças boas e ...muito ânimo e encantamento.

quinta-feira, dezembro 04, 2008

Sobre morar e mover-se

Transito entre Rosário e Alegrete como se nunca tivesse saído dessas duas cidades. Gosto delas. Há um quê de familiar em cada rua. Nenhuma surpresa depois da esquina. Gosto de cidades pequenas. Queria que o desenvolvimento das cidades não as fizessem maiores, apenas melhorassem a qualidade de vida de seus moradores. Gosto mais ainda de morar "pra fora". Observo em muitos países a tendência do retorno ao campo ou da troca da cidade pelo campo. Isso me encanta. A consciência das estações, no meio rural, amplia a dimensão do tempo. Penso que o campo é o melhor lugar para a gente envelhecer. Eu só precisava mesmo de um aeroporto mais perto. Aí seria a perfeição!
"Cada coisa a seu tempo tem seu tempo.
Não florescem no inverno os arvoredos,
Nem pela primavera
Têm branco frio os campos.

À noite, que entra, não pertence, Lídia,
O mesmo ardor que o dia nos pedia.
Com mais sossego amemos
A nossa incerta vida."
Fernando Pessoa